domingo, 20 de novembro de 2005

livros amontoados sobre a cama espaçosa em demasia
as paredes dum branco alongado são o ponto no qual os olhos perdem o foco
rachaduras e infiltrações,
o tic-tac do velho relógio na cozinha,
o cheiro do bolo ainda no forno,
as cantigas- de- ninar,
os olhos do menino caçando vaga-lumes

está tudo ali

sussurros enraizados nas memórias escassas

o silêncio

a distância

a amargura

o nunca mais da solidão
essa tristeza vazia que espirra nódoas na minha cara. esse sentimento de perda que multiplica o sol em solidão. esse sonho interrompido que gargalha suspenso no que havia das minhas manhãs de primavera. essa dor incontida achatando meus medos. esse lamento reverberando minhas vértebras. esse gosto de quarto branco e vazio [meus cantos esquecidos, meus recantos inventados. pequenas fissuras que me fazem absurdamente quieto, um cão atropelado no meu próprio labirinto] procurando ar, escrevo meu nome numa folha que o outono jogou ao chão. já é tarde quando a madrugada lambe minha pele [posso sentir tua perda aqui comigo] eu rogo ao acaso e sussurro teus dedos de chuva de verão. preciso das palavras escritas no ar que te respira pra que eu possa ser mais leve e mergulhar pra longe deste inverno de ti.