sexta-feira, 13 de abril de 2007


azul-empalidecido é o silêncio feito da poeira daquilo que preservamos quieto, dentro dos ossos – as horas revisitando os estilhaços dos nossos fantasmas insones. azul-encarnado é o silêncio das memórias rompendo a rigidez moribunda do tempo, além acima – as estações alinhadas diante do horizonte chuvoso [febris, trazemos nas mãos o desdizer do destino. e acreditamos que ainda podemos sonhar]

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Algumas vezes, escolhemos o pôr-do-sol como refúgio e ficamos ali, diante do rio, observando os barquinhos passarem enquanto o poente avança, trazendo novas cores ao céu outrora apenas azul. Ao vermos o sol, já quase mergulhado no horizonte, invadem-nos harmonicamente o silêncio e a leveza, desarmando nossas mentiras, revirando-nos dos pés à cabeça, para então, levar-nos pra longe, tão longe que ao nos apercebermos já não cabemos mais em nosso próprio mundo e acabamos por sentir um imenso vazio – um vazio de nós mesmos. Nesses momentos, não há poesia, nem prece ou canção capaz de preencher-nos. Estamos sós, afagados por uma solidão faminta, atenciosa, paciente, meticulosa e fiel. Dói-nos a alma. A respiração concentra-se num só ponto. Os ossos estalam em desespero. É penoso o desnudar de si mesmo. Assustados, socorremo-nos da lucidez. Infalível! Os nossos olhos recobram a velha clareza ao verem um pássaro em vôo de retirada. A tranqüilidade retoma o seu lugar. Passamos a notar os carros, as pessoas, os cães vadios e aquele mendigo, a esperar. Com alívio, damos às costas ao que resta da tarde. Saudamos a rotina. Calculamos os próximos passos. Escolhemos o destino de sempre. Sempre. Ah! bom mesmo seria na loucura mergulhar antes do sol. E trazer do fundo do rio, estrelas cadentes na palma das mãos.
imagem de ismael nery