quinta-feira, 29 de setembro de 2005

O que ontem era rápido,
hoje se arrasta para um amanhã pálido.

As manhãs natimortas revelam incrédulas paisagens olhando-me nos olhos

O sangue que não brota,
mas mata por dentro
Poderia ser a marca d’água destas palavras fúteis
verdadeiramente descrentes de tudo


Exceto de ti,
meu único e ausente amor.
A música que corta o ar não diz nada
como se soubesse não termos ouvidos
para senti-la.

Nada,
não há nada de concreto aqui
Apenas o vazio a nos consumir o ar e o sentido
as particularidades dos nossos últimos instantes
pouco a pouco consumidas
silenciosamente
desesperadamente
impunemente
como se fossem ecos
cada vez mais distantes
e sem cor

Tranco a mim mesmo num local bem seguro
mas ainda não sei como te deixar lá fora
escapo momentâneamente da perda
mas a tua presença amplia o medo de saber do meu vício
do que me faz derrotado
inescrupuloso
vil
[os teus olhos,
teus infinitos olhos castanhos
devorando os meus]

Que sorriam os palhaços de domingo

Que renasçam as manhãs abortadas

Hoje,

um amor morreu.