sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

imagem de luiz roberto guilger

não posso partir destas
memórias
a vida inteira pela frente

lentamente revista
mastigada
trinta e duas vezes

sobre teu corpo
ausência
plena de mim


quinta-feira, 27 de novembro de 2008


o corte, preciso e indolor

não deixou nada intocado

nem mesmo a solidão


lembro de como senti

a tua perda gotejando

um vazio contagiante


que pariu em desespero

remendos de outros dias

que não souberam chegar





imagem de dino valls

terça-feira, 21 de outubro de 2008

éramos sobras
um aglomerado de emoções
rasteiras
medrosas
raquíticas

e mentíamos a nós mesmos
cúmplices de um enredo aprendido
em culposo silêncio
enterrado
nos abismos da pele

enquanto jurávamos amor
como se a eternidade fosse
nada além de
um lugar distante
por alcançar

mas é que hoje ao olhar ao meu rosto cansado
vejo um pálido aceno
de um adeus covarde
que sabemos
não vai chegar


imagem de naranjo

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

parto
porque em mim
já não há mais o que possas
sonhar

imagem de arturo montoto

sexta-feira, 5 de setembro de 2008


ficamos

mas por acaso sabemos

quantos de nós

ainda há nesse adeus

que agoniza ao partir?
imagem de flor minor

sexta-feira, 15 de agosto de 2008


desconheces a permanência rígida
limítrofe
da saudade a empurrar-me
ao silêncio caduco
entricheirado
nas memórias que despertas em mim

quarta-feira, 16 de julho de 2008


onde começa em ti o deserto
essa história que esperanças
feita de sonhos alheios
como se fossem teus?

onde finda em ti a tristeza
essa cicatriz que desfigura
feita dum amor barato
como se fosse o meu?



imagem de dino valls

domingo, 25 de maio de 2008


pudesse o amor frear a distância
escrita no abandono apossado de nós
e eu não estaria aqui remendando palavras
apequenado pela mudez dessa página em branco




imagem de agustin bejarano

segunda-feira, 28 de abril de 2008




mortos


falavam apenas do que não sentiam


tocavam apenas o que já sabiam


sonhavam sonhos que em si mentiam


não mais sorriam


não mais


terça-feira, 18 de março de 2008


perco o tempo
mergulho o que resta
basto-me de mim
projeto a mesma cena
na tela vazia dos meus sonhos
e você não volta...
você não voltará

imagem de edgar leon

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008



caduco a felicidade
abrindo portas que levam a lugar nenhum
bufão fugindo da primavera
habita-me um peito cheio de dor
comporto nas veias
o caminhar da amargura
(sou um arremedo)
mero arremedo a descrer no amor


imagem de redon




sexta-feira, 25 de janeiro de 2008





cicatrizava tudo aquilo que temia


o sol nascendo antes da solidão


a brancura vigilante das paredes


a felicidade cobrando o preço devido


os domingos infestados de passarinhos e nuvens




cicatrizava em silêncio


(nem seus ossos o ouviam)


cicatrizava qual lamento


(há memórias presas nas retinas)




beirando a loucura


disfarçar a dor


escrever o mesmo nome


no mesmo caderno


letra após letra


fingindo que a felicidade


teimaria em voltar