segunda-feira, 23 de outubro de 2006

as roupas
guardam você
na ausência
no adeus
na morte

vestem você
de medo
de pesares
de angústia

despem você
de sonhos
de esperança
de amanhãs

(avessas ao tempo
,imunes às palavras
,dizem apenas
o que precisam dizer)

sexta-feira, 13 de outubro de 2006


pro Celso, antes dum amanhecer.


amor-comprimido
tiros de festim ecoando
sob a benevolência
duma manhã que não chega
e nem sai daqui
(minha esperança malsã)

nossos corpos são restos de medo
nossas preces são vidas prescritas
sabemos bem qual o nosso lugar
e por lá ficamos quietos
perpendicularmente a sós
(lucidez amargurada e vã)

quinta-feira, 5 de outubro de 2006


redon
madrugada,
apenas outra madrugada
acobertando palavras
engasgadas na alma
tiquetaqueando o medo
fingidor de quem sou

(perdoa-me por não ter
de deus escapado aos afagos
e buscado a esperança
nos jardins da minha infância:
eu não soube alcançar os abismos teus)

madrugada,
e o peso de outra manhã
a aproximar-se daqui
inevitavelmente lúcida e conhecedora
de mim os demônios irascíveis


(escavo velhos refúgios
pedaços desertos de fé
para que eu possa saltitar sobre a dor
antes que o sol de ti revele as sobras:
eu não pude enfrentar os caminhos meus)