sábado, 25 de fevereiro de 2006




A solidão nos abraça, sempre
[para nos sufocar, deixa preso em nosso peito o azul-grito;
para nos acalentar, traz de volta à nossa infância o branco-alvorada]
A solidão nos olha por dentro, sempre
[sabe daquilo que enterraremos conosco, silêncio;
sabe daquilo que nos impediram calar, medo]
A solidão nos acompanha, sempre
[pelas tardes que nos escapam poentes, angústia;
pelas madrugadas que nos invadem famintas, demência]

domingo, 12 de fevereiro de 2006


A nuca estava nua – era a lua longe daquilo que eu com dificuldade respirava
[respingos da tua passagem mantendo a vida acesa
e a vida só dura enquanto nos é possível sonhar]


Não mais haveria outra imagem naquelas retinas esquecidas pelo descarrilar do tempo
[amarguras travam a circulação dos sonhos
e os sonhos adoecem quando cabem na palma das mãos]

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006


Você não tem uma palavra
que sele meus sonhos
e me faça adormecer
quando a madrugada
trouxer a solidão?

[nunca soube do sol as trilhas que partem pra lugar algum,
feitas de silêncio e grama com cheiro de infância]

Você não virá dizer
que conhece a saída
pra dor que esfacela
as reminiscências
do azul feito de restos?

[nunca descobriu os segredos da chuva das tardes de Belém,
feitos de jambeiros floridos e pássaros poentes]

Sentiu que era inútil prosseguir
Sentiu que era sofrido amanhecer

As feridas
cauterizadas
Os nós da alma
atados
As linhas do destino
alinhadas
Procurando o fim

E havia sombras, onde reluzira
E escutava-se medo, onde sorrira
E alimentava-se culpa, onde sonhara
E reinava o pesar, onde amara

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Daquilo que se repete incansavelmente dentro da alma

fica o desamor pesando sobre nossos sonhos

restos de sonhos-cobaias


[a sobrevida do instante

o escárnio das auroras infestadas por gafanhotos marrons

a palidez da lua dentro dos teus olhos

a minha pele nervosa e suada

as brancas paredes deste maldito quarto

que não me deixam rabiscar

outro horizonte na boca de deus]


Eu preciso d’um minuto sem ouvir vozes

Eu preciso sangrar o que me adoece

Eu preciso estancar a lucidez

Eu preciso sair daqui

Eu preciso do teu colo

E da tua nudez de menina

Eu preciso que amanheças meus girassóis

Eu preciso que saibas do meu mundo


Recomeçar as estrelas

Reanimar as auroras

Reavivar os sonhos

E de novo, sorrir.