segunda-feira, 20 de março de 2006



As paredes do quarto
Ganham outras formas e texturas
Quando as cores da primavera ficam mais distantes.

A alma tateia a superfície do medo
E o peso de cada momento redobra
Quando a chuva lá fora varre lembranças.

Nesta agônica cantiga
A crueza do abandono resvala nas horas
Quando a dormência dos indigentes infesta a esperança.

[cai sobre meus ombros o que restou das recordações]

Povoada por sons
A melancolia do poente anoitece a sanidade
Quando a febre em mim persiste.

Um lampejo e sou deus
Um aceno e desfaço ilusões
Um segundo a mais e seria poesia.

domingo, 5 de março de 2006





NOTAS ESPARSAS D’UMA MANHÃ SEM SOL
Haveria de ser algo que destroçasse
Nenhuma palavra poderia escapar
Dos nossos corpos suados e sós
Largados na cama como sobras
Disfarçando o amor até a medula
Na cômica cadência moribunda de cada dia

Haveria de ser algo que rasgasse
Nenhum sentimento poderia saber
Dos nossos mudos dissabores e nós
Amedrontados nos ossos sem fé
Cuspindo nas almas o escárnio
Na trágica dormência dos desejos descumpridos.