domingo, 20 de novembro de 2005

livros amontoados sobre a cama espaçosa em demasia
as paredes dum branco alongado são o ponto no qual os olhos perdem o foco
rachaduras e infiltrações,
o tic-tac do velho relógio na cozinha,
o cheiro do bolo ainda no forno,
as cantigas- de- ninar,
os olhos do menino caçando vaga-lumes

está tudo ali

sussurros enraizados nas memórias escassas

o silêncio

a distância

a amargura

o nunca mais da solidão
essa tristeza vazia que espirra nódoas na minha cara. esse sentimento de perda que multiplica o sol em solidão. esse sonho interrompido que gargalha suspenso no que havia das minhas manhãs de primavera. essa dor incontida achatando meus medos. esse lamento reverberando minhas vértebras. esse gosto de quarto branco e vazio [meus cantos esquecidos, meus recantos inventados. pequenas fissuras que me fazem absurdamente quieto, um cão atropelado no meu próprio labirinto] procurando ar, escrevo meu nome numa folha que o outono jogou ao chão. já é tarde quando a madrugada lambe minha pele [posso sentir tua perda aqui comigo] eu rogo ao acaso e sussurro teus dedos de chuva de verão. preciso das palavras escritas no ar que te respira pra que eu possa ser mais leve e mergulhar pra longe deste inverno de ti.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

fios descascados na crueza da dor
fios descascados na crueza da dor
fios descascados na crueza da dor


eu vi teus medos partirem de uma só vez
eu vi teus medos expiando a minha alma
eu vi teus medos se apossarem de mim
eu vi teus medos se apossarem de mim
eu vi teus medos se apossarem de mim


now I’m gonna clean up the lost beauty of your face
and get up stronger than the day before
nothing seems the same since I met the pale of your eyes


eu vi teus medos
eu vi teus medos
eu vi teus medos
eu vi teus medos
eu vi teus medos
teus medos
teus medos
teus medos
medos
medos
medos
medos


eu vi teus medos crescendo em mim

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Estava na cadeira de balanço, onde o avô não mais estivera.

douglas, douglas! disse alguém bem distante dali

eu quis um sorriso, mas a resposta não pôde chegar


[ficou enraizada na imensidão da vertigem]


Olhando fixo ao teto, só o que via eram rachaduras onde houvera a primeira estrela – o tempo marcado nas angústias veladas.


Entre o polegar e o indicador, um sonho escrevendo ciclos


[o epílogo desfeito – mais e mais gotas de chuva em meio ao arco-íris]

terça-feira, 4 de outubro de 2005

O espaço entre os músculos e a inquietação da alma – novo ponto a ser sufocado
Retrato absoluto de outra tarde desolada

onde o cinza prevalece – céu anunciando mudança climática.


A lua crescente é o que te parece mais lúcido – velhos amigos envoltos em trapos
Longe, as memórias acenam horizontes estanques

onde o azul rareia – trinta e oito anos delimitados pela dor

No one knows and no one came
No one knows and no one came
No one knows and no one came
Be my preferred angel
Be my preferred friend
Be my preferred true
Be my
My
Flesh and blood
Of mine


O que secretas te desnuda a essência
O que permites disfarça toda ausência
Quando quieto é que te nutrem as esperanças.

Eat my sins
Redemption is here
Redemption is here
Redemption is here
Always here



No medo encontras aquilo que te imuniza
O que te falta quando a queda parece lampejo
Quando a ilusão não passa de um sorriso perdido



As entranhas ardem em desespero
As entranhas ardem em desespero
As entranhas ardem
Ardem em desespero

sábado, 1 de outubro de 2005

Sofro de erosão


implacável
intercadente
lenta
profunda

A me consumir

os olhos
a boca
os sonhos
a solidão

Meu mar é você

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

O que ontem era rápido,
hoje se arrasta para um amanhã pálido.

As manhãs natimortas revelam incrédulas paisagens olhando-me nos olhos

O sangue que não brota,
mas mata por dentro
Poderia ser a marca d’água destas palavras fúteis
verdadeiramente descrentes de tudo


Exceto de ti,
meu único e ausente amor.
A música que corta o ar não diz nada
como se soubesse não termos ouvidos
para senti-la.

Nada,
não há nada de concreto aqui
Apenas o vazio a nos consumir o ar e o sentido
as particularidades dos nossos últimos instantes
pouco a pouco consumidas
silenciosamente
desesperadamente
impunemente
como se fossem ecos
cada vez mais distantes
e sem cor

Tranco a mim mesmo num local bem seguro
mas ainda não sei como te deixar lá fora
escapo momentâneamente da perda
mas a tua presença amplia o medo de saber do meu vício
do que me faz derrotado
inescrupuloso
vil
[os teus olhos,
teus infinitos olhos castanhos
devorando os meus]

Que sorriam os palhaços de domingo

Que renasçam as manhãs abortadas

Hoje,

um amor morreu.