quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007


siegfried
estranhos mundos
os teus
não se aquietam
quando sós
descascam a tinta das paredes
do quarto onde escondo meus sonhos
fiapos de sombras murmurando bendizeres
quando rogo clemência
loucos
dão-me as costas em temor

domingo, 21 de janeiro de 2007


escapo à solidão que não soube me devorar, em silêncio. os odores da madrugada vêem-me verticalizar o prenúncio duma aurora possível de ser sonhada, sem ti. espantalho, desfiz o nó do medo e cementei meu coração. só o que pedi era pra que amanhecesses meus girassóis.


não há mais rastros da saudade
somos dois estranhos inventados por nós mesmos
neste quarto limpo de vida
a recortar nossa história em pedacinhos
VISÍVEIS demais para serem ignorados
DISTANTES demais para serem caminhados
MEDROSOS demais para serem amados
PATÉTICAS amostras dum fim arrastado

terça-feira, 9 de janeiro de 2007


quando a descrença
apodera-se de mim
não quero saber
do tempo a demorar
enfiado em si mesmo
preso às coisas banais
aos pormenores viciosos
e às incômodas minúcias
apalavradas com a sanidade

quero apenas escapar
desse deserto imune às cores
e dentro de uma nuvem cheia
ser capaz de chover felicidade
pra desertar dessa tristeza tão imensa
alimento da tua ausência inacabada
bem maior que a solidão

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

eduardo naranjo

gotejante veneno
descendo
corpo abaixo
narinas vedadas
coração estacionado
punho enfiado no eixo
do amor
só o que importa
QUEDA

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006


desconheça-me, amor imenso
pois meu céu esqueceu o azul
nas primeiras rachaduras do pôr-do-sol
e eu tenho a alma
DESESPERADAMENTE
carcomida por cores mortas.

sábado, 9 de dezembro de 2006


escapa-me!
o que sinto destrói
e minha língua é feita de paisagens
áridas, limpas e infecciosas:
meus sonhos rumam para nunca serem.

esqueça-me!
por não ter descoberto
a ternura do teu silêncio
meu legado é pesaroso:
pertenço ao que fica pra trás.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

pra marianna,
numa madrugada amputada de mim.



(Há um grito preso na minha garganta. Tem as cores do teu nome, ele disse. Bifurca meu horizonte sem apontar uma direção. Sou um homem só, foram suas últimas palavras antes de vê-la afastar-se lentamente, caminhando com a leveza de quem se despe de um fardo por demais datado. Ela, a menina que amanhecia seus girassóis, partindo. Como se a vida fosse uma peça barata a ser encenada exaustivamente, aquele homem, de mãos suaves e delirantes, repetia diante do espelho: a felicidade é um momento crível, por deus, tem que ser! Inútil. Não conseguia convencer a si mesmo de que tudo voltaria a ser como no início, quando as manhãs respiravam sorrisos e os olhos daquela menina eram só os olhos da menina que ele tanto amava, e não aqueles rastros de nada que agora assombrariam um futuro não visto, futuro de um homem qualquer. Sem compaixão, sem esperança, a vida tropeça naqueles que não sabem dançar)



é teu o adeus...
comigo, o que ficou retido
nas entranhas dessa recusa
desesperada e muda
como se amor não pudesse
um dia acordar mais cedo
para morrer sem livrar-nos
do fantasma de nós dois.